A movimentação de carros que chegavam e partiam era intensa, no final da noite de terça-feira (16), diante do prédio funcional em que mora o deputado Washington Reis (PMDB-RJ), em Brasília. Deputados chegavam para jantar, mas saíam correndo a cada anúncio de votação nominal no plenário da Câmara.
O presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prolongou a sessão de votação da Medida Provisória que autoriza bancos públicos a comprar participações em outros bancos e empresas até o fim da noite, o que impediu a reunião simultânea de todos os que se dizem apoiadores da candidatura do atual líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que tentará, na tarde desta quarta-feira (17), ser reconduzido ao cargo.
Cunha, que apoia o adversário de Picciani, Hugo Motta (PB), foi o principal assunto da noite. “Ele é terrível”, dizia um deputado. “Cada um luta com suas armas”, dizia outro resistente em acreditar que o alongamento da sessão nada tinha a ver com impedir o jantar organizado para o ex-aliado do presidente da Câmara.
Com o vaivém de parlamentares, conferir o número de circulantes na festa tornou-se missão impossível. A reportagem contou algo em torno de 20, mas o anfitrião garantiu que “42 votos”, incluindo o do ministro da Saúde, Marcelo Castro, passaram por lá. A ficha do buffet contratado contava com 40 convidados. Picciani acredita que terá entre 42 e 45 votos, enquanto Motta aposta ter entre 36 e 41 votos.
Outro ministro peemedebista, Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) também passou por lá. Pansera queria voltar à Câmara temporariamente, como Castro, mas seu suplente, José Nalin (RJ), pediu para votar e garantiu apoio a Picciani. Pansera concordou.
Em meio a salgados de entrada, filé mignon ao molho madeira, camarão na abóbora, rondele de queijo e presunto, sucos, refrigerantes, água, cerveja e vinho, deputados faziam contas e se diziam tranquilos, já cantando vitória e contando a adega. “Mandei mais de 20 garrafas”, dizia um deputado que, na madrugada, sentado a uma mesa com a toalha branca manchada de bebida, reclamava que o vinho tinto havia acabado.
Enquanto comiam pudim de leite condensado, pudim de clara e mousse de chocolate, deputados distraiam-se com canções de Wando no Youtube – “Gostosa” e “Safada” eram os clássicos executados no celular. Quando os vídeos acabaram, a artilharia voltou-se para Eduardo Cunha mais uma vez.
“O problema do Eduardo é que ele não tem limite”, dizia um deputado. “Depois, vamos ajudar ele, tadinho”, completava outro. “Ele está precisando que estendam a mão para ele”, afirmou um parlamentar descrente de que, se derrotado, Cunha terá forças para retaliar aqueles que ficaram com Picciani.
Durante essas manifestações, Picciani não estava na sala. Já passava de 1h desta quarta-feira, e ele estava recolhido fazendo ligações. Os que se reuniram com o deputado fluminense antes que ele pegasse o telefone faziam contas, mas se atrapalhavam, depois de alguns drinques, com os números. “Com Marcelo [Castro] a bancada fica com 70 [deputados]”, afirmou um deputado. “Setenta e um”, dizia outro. “Setenta e um só se Eduardo votar”, ironizava outro fazendo trocadilho com o número 171, artigo do Código Penal referente a estelionato.
Os convidados partiram, mas, mesmo já passando de 1h30, Picciani continuava ao telefone. Antes, relatara que não queria se demorar por causa dos compromissos desta manhã. A previsão era que gravasse o programa de TV do PMDB logo cedo e, depois, disse que ainda tinha “um voto indeciso para conversar [converter]”.
Mais cedo, na Câmara, aliados de Hugo Motta também se diziam confiantes na vitória e informaram que não haveria nenhum jantar de apoio a ele na noite de terça.
O deputado Leonardo Picciani, que tenta se tornar líder do PMDB