Animais considerados extintos ao final da Era do Gelo são encontrados milhares de anos depois no Brasil

Pesquisadores brasileiros identificam locais com as últimas espécies da megafauna nas Américas

Oito datações radiométricas por carbono de fósseis da megafauna de mamíferos nas localidades de Itapipoca (Sítio Paleontológico do Jirau, Ceará) e no rio Miranda (Mato Grosso do Sul), com as respectivas idades: Itapipoca (Ceará) – Preguiça Gigante (Eremotherium laurillardi; 6.161 ± 364 anos e 7.415 ± 167 anos), Tigre Dentes-de-Sabre (Smilodon populator; 7.803 ± 179 anos), Toxodon platensis (7.804 ± 226 anos), Xenorhinotherium bahiense (3.587 ± 112), Mastodonte (Notiomastodon platensis; 7.940 ± 502 anos) e Palaeolama major (3.492 ± 165 anos); rio Miranda (Mato Grosso do Sul) – Preguiça Gigante (Eremotherium laurillardi; 5.942 ± 294 anos) revelaram uma idade inesperada para os fósseis da megafauna brasileira. A surpreendente idade de aproximadamente 3.500 anos para o fóssil de Xenorhinotherium e de Palaeolama revolucionam o que hoje conhecemos sobre os eventos de extinção ao final da Era do Gelo há 11.700 mil anos.

A presença de animais da “Era do Gelo” há poucos milhares de anos revoluciona o que hoje se discute sobre os eventos de extinção abrupta no limite do Holoceno-Pleistocenos. As idades obtidas no estudo, junto com a evidência arqueológica, demonstram que as teorias de caça predatória por humanos e rápida expansão humana para novos territórios não são muito adequadas para explicar a extinção da megafauna na América do Sul. O artigo analisa a fauna que existiu no Brasil após os eventos de extinção dos grandes mamíferos e os motivos climáticos da alteração da biota durante o tempo presente.

Ilustração: Palaeolama major, considerada extinta no limite Pleistoceno-Holoceno, viveu até 3.500 anos atrás no território do estado do Ceará, Brasil. Arte por Guilherme Gher.

Os fósseis analisados são das coleções paleontológicas do Museu de Pré-História de Itapipoca (Ceará) e do Laboratório de Zoologia do Departamento de Biologia da UFMS (Campo Grande, Mato Grosso do Sul). As datações foram realizadas no Laboratório de Radiocarbono da Universidade Federal Fluminense (UFF; Campus Gragoatá, Niterói), sendo o único laboratório a realizar esse tipo de análise na América do Sul. O método utilizado para a datação dos fósseis foi 14C-AMS (Datação do Carbono 14 por Espectrometria de Massa com Aceleradores).

Dente datado da Preguiça Gigante – Rio Miranda – Estado de Mato Grosso do Sul.
Ilustração representa o paleoambiente de Jirau, sítio Paleontológico de Itapipoca (CE)
Arte por Guilherme Gher.

O objetivo do artigo “3,500 years BP: The last survival of the mammal megafauna in the Americas” foi avaliar as diferentes modelos propostos para explicar a extinção da megafauna no continente Sul-americano com base em datações isotópicas, para um aumento da confiabilidade das interpretações.

Equipe: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ; Fábio Henrique Cortes Faria; Ismar de Souza Carvalho), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ; Hermínio Ismael de Araújo-Júnior), Museu de Pré-História de Itapipoca (MUPHI; Celso Lira Ximenes) e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS; Edna Maria Facincani).

Artigo: Faria, F.H.C, Carvalho, I.S, Araújo-Júnior, H.I, Ximenes, C.L., Facincani, E.M., 3,500 years BP: The last survival of the mammal megafauna in the Americas, Journal of South American Earth Sciences, https://doi.org/10.1016/j.jsames.2025.105367.

Apoio: Faperj e CNPq

Foto: ESCAVAÇÃO fossilífera no sítio paleontológico Jirau, Itapipoca (CE) / Crédito: Celso Ximenes/Divulgação

Fonte: Universidade de Coimbra


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