Um tema delicado e cuja exposição exagerada poderia gerar mágoas. Esse foi um dos motivos pelos quais Carol Gattaz, ex-central da seleção brasileira feminina de vôlei, sempre evitou falar sobre o namoro com a também jogadora Ariele. Agora, o receio deu lugar a uma segurança maior após recepção positiva das pessoas, e Gattaz resolveu se abrir sobre o que vivenciou nos últimos dois anos e como tem ajudado outras pessoas.
A relação com a companheira de profissão que joga no time de Zé Roberto Guimarães (ainda não sem nome e patrocinador) se tornou uma união estável há um ano. Apesar de evitarem entrevistas sobre a união, as postagens em redes sociais sempre foram constantes. Gattaz admite que teve medo de que uma repercussão exagerada atrapalhasse também a vida pessoal e profissional da dupla. Mas não foi assim, e terem sido procuradas por outras pessoas em situação semelhante, de certa forma, até ajudou a decidir falar sobre o tema para deixa-lo mais natural entre as pessoas.
“Queríamos preservar nossas famílias e não falar muito sobre o tema. Não queria dar entrevistas e nem que isso atrapalhasse outras áreas da nossa carreira. Por mais que todo mundo já soubesse faz tempo, não queríamos falar sobre. Lógico, a gente não sabe o que falam por trás, existem as pessoas maldosas, invejosas e preconceituosas. Mas até hoje a gente só viu coisa positiva. Foi isso, mais por não querer prejudicar outras áreas da nossa carreira”, falou em entrevista ao UOL Esporte.
“A gente assumindo, levando naturalmente o relacionamento, pode fazer com que mais pessoas assumam (relacionamentos homossexuais). Tanto que recebemos muitas mensagens sobre como inspiramos outras pessoas. Elas agradecem o incentivo porque não tinham coragem de se assumir. Depois que viram como a gente lidou com situação, ficou mais fácil de se assumirem. É muito bacana esse retorno que a gente tem”, afirmou.
A intenção de Gattaz é que o tema seja visto com a maior naturalidade possível. E adianta que não tem como objetivo ser bandeira de nenhum movimento ou causa.
“Levo isso na maior naturalidade como deve ser, tem de ser natural. Faço qualquer coisa que todo mundo faz, como qualquer casal. Ninguém precisa ficar levantando bandeira, a gente não quer levantar bandeira. Quer que seja natural. As pessoas querem que a gente fale porque existe muito preconceito. É uma coisa que a gente não precisa sair falando: ‘sou homossexual, hétero’. A gente se gosta, as pessoas têm de respeitar e tem de saber que o que importa é estar com quem a gente gosta. Eu faço isso mais pela minha vida. Queria apenas se tornasse natural” declarou.
Ao contrário do que aconteceu com Michael, vítima de gritos homofóbicos em um jogo da Superliga de 2011, Carol fala que nunca teve de encarar situações de tipo. A central até elogia o carinho que ela e Ariele recebem do público. “Preconceito nunca temi, sabemos que pode haver preconceito, ainda bem que até hoje, todas as formas que as pessoas se relacionaram conosco foram as melhores.”
Antes de ir para Barueri, Ariele era jogadora das categorias de base do Minas, mesmo clube de Carol, mas não teve seu contrato renovado. As duas jogadoras moravam juntas até o início do ano quando a atleta veio para o estado de São Paulo.
Carol Gattaz conquistou cinco títulos de Grand Prix pela seleção brasileira e bateu na trave de uma Olimpíada, ao quase participar em 2008, sendo cortada antes da lista final. Hoje, aos 35 anos, ela é responsável por transmitir experiência ao time do Minas e foi comentarista do Sportv nos Jogos do Rio.
Carol (à dir.) e Ariele estão casadas há um ano
Fonte: Uol