No mês passado, a sonda New Horizon, da Nasa (agência espacial americana), chegou a Plutão após uma viagem de 5 bilhões de quilômetros que durou nove anos e meio. Segundo o líder da missão, Alan Stern, provavelmente nenhum de nós terá o prazer de ver um “novo planeta” de perto de novo na vida, ainda que se trate de um planeta-anão. Mas a grandiosidade do evento foi tratada com desdém por milhares de internautas, que vieram a público alertar que tudo não passava de uma farsa.
Tente fazer uma busca com as palavras “Pluto” e “hoax” e você encontrará todo tipo de teoria conspiratória em relação ao tema. Um internauta, por exemplo, tenta provar com um vídeo caseiro que aquelas imagens podem ser feitas com qualquer bom telescópio instalado no quintal. Alguns blogueiros falam em um ritual maçônico cheio de códigos secretos. E não falta, é claro, quem diga que a Nasa está acobertando a existência de alienígenas em Plutão.
Você pode encontrar teorias desse tipo para justificar outros tantos eventos que marcaram a História, como a chegada do homem à Lua e a explosão do World Trade Center, em Nova York. Você não pode negar que alguns dos argumentos usados por quem espalha essas opiniões são bastante convincentes, tanto que atraem não apenas malucos, mas muita gente inteligente (você deve conhecer alguém, vai?). Mas por quê, afinal, somos tão inclinados a gostar dessas hipóteses?
Ávidos por padrões
“Amamos teorias da conspiração porque temos a necessidade de explicar por que as coisas acontecem na nossa vida; nós queremos dar causas para os efeitos, razões para o que acontece no mundo”, responde o psicólogo e escritor Michael Shermer, autor de livros como “Por Que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas?” e “Cérebro e Crença” (JSN Editora).
Fundador da revista Skeptic, Shermer explica que o cérebro humano, assim como de outros primatas, é ávido por padrões. Por isso, rapidamente encontra formas de conectar o evento “A” com o “B” e assim por diante. “Às vezes essa conexão realmente existe, mas às vezes não”, continua o escritor. “A gente simplesmente assume que os padrões são reais, e teorias da conspiração não passam de padrões explanatórios.”
Organizações poderosas e, muitas vezes, sem um rosto bem definido, tornam-se alvo fácil para projetarmos a imagem de gente discutindo segredos entre quatro paredes. Por isso o governo dos EUA é uma “vítima” frequente dos conspiracionistas. “A Nasa é apenas uma agência do governo, e não é especialmente grande em comparação com outras, mas lida com espaço; e pessoas interessadas em óvnis e alienígenas sempre associam a agência a isso”, observa Shermer.
Dá barato
No livro “Cérebro e Crença”, o psicólogo discute o papel da dopamina na tendência a aderir a teorias da conspiração, algo demonstrado em alguns estudos científicos. Esse neurotransmissor é associado ao aprendizado e à memória – e isso explica porque pessoas cultas e inteligentes se envolvem nisso.
Mas a dopamina é, também, essencialmente ligada ao sistema de recompensa do cérebro: “E encontrar conexões é gratificante”, comenta o Shermer. Ou seja: dá um certo barato pensar que o presidente dos EUA forjou um atentado terrível para justificar a invasão do Iraque e do Afeganistão ou fomentar a indústria bélica.
Por Tatiana Pronin
Do UOL, em São Paulo