Michel Temer imagina estar lutando por um lugar na história. Mas, por ora, cuida mesmo é da unidade dos partidos ditos aliados, que querem apenas as benesses do poder, não um bom verbete na enciclopédia. Filiado ao mesmo PMDB de Temer, Eduardo Cunha decidica-se a dificutar-lhe a vida. Repete agora a mesma estratégia que utilizara para sitiar a gestão de Dilma Rousseff na Câmara.
Afastado do mandato pelo STF, Cunha reuniu na última terça-feira (17), na residência oficial da Câmara, líderes dos partidos que integram sua infantaria parlamentar. Para elevar o poder de barganha, os comensais de Cunha decidiram se juntar num megabloco partidário. Têm potencial para colocar 225 votos no plenário. Juntando-se aos 66 deputados do PMDB, roçam os 300 votos.
Em fevereiro de 2014, quando ainda era apenas líder da bancada do PMDB, Eduardo Cunha formara um aglomerado partidário semelhante para cercar a gestão Dilma. A diferença está no nome. Há dois anos, o ajuntamento foi batizado de “blocão”. Hoje, chama-se “centrão”. Age com a mesma sutileza de elefante. O ato inaugural do grupo foi atravessar na traqueia de Temer um deputado indigesto: André Moura (PSC-SE).
Apinhado de deputados do baixíssimo clero, o centrão exigiu que Moura fosse nomeado por Temer líder do governo na Câmara. Ameaçou rebelar-se se o Planalto insistisse em entregar o posto para o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), como pretendia. Temer e seus operadores piscaram. A despeito de o preferido de Cunha arrastar correntes em oito processo no STF —de improbidade até uma tentativa de homicídio— Moura foi acomodado no posto de líder.
O grupo tem a grandeza da vista curta e é movido a interesses mesquinhos. Integram-no partidos que apoiaram os governos petistas e traíram Dilma no impeachment —legendas como PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN… Isolados, piam pouco. Juntos, gritam muito. Sob Dilma, deixaram PT e PCdoB falando sozinhos no plenáro. Agora, tentam impedir que PSDB, DEM e PPS, recém-embarcados no ônibus governista, reivindiquem assentos na janelinha.
Fonte: Josias de Souza