Cusparada de Jean Wyllys e outros 12 momentos marcantes da votação do impeachment

Se você não conseguiu acompanhar as mais de sete horas de discursos e votação na Câmara dos Deputados que resultaram no aval da Casa para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a BBC Brasil reuniu abaixo alguns dos momentos mais marcantes – e inusitados. Confira:

 

1. Faixa “Fora, Cunha”

 

No início da sessão, parlamentares contra o impeachment estenderam uma enorme faixa com a frase “Fora Cunha” para protestar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Irritado, o peemedebista exigiu silêncio dos parlamentares.

 

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Image caption Deputados abrem faixa contra o presidente da Câmara

 

2. Cantoria de Paulinho da Força

 

Em seu discurso antes do início da votação, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) usou a tribuna para liderar um coro de parlamentares pró-impeachment em uma paródia da canção Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré.

 

“Dilma vai embora que o Brasil não quer você e leve o Lula junto e os vagabundos do PT”, cantou, enquanto um colega a seu lado fazia uma chuva de papel picado.

 

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Image caption Paulinho da Força em clima de ‘Carnaval’ na Tribuna

 

3. Tumulto

 

O começo da sessão da Câmara teve tumulto e troca de insultos entre deputados que gritavam “fora PT” e os que entoavam “não vai ter golpe”.

 

Cunha pediu silêncio e ordem e chegou a ameaçar chamar os seguranças para tirar o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) da sessão. Ele também pediu que os deputados evitassem ficar atrás da tribuna com cartazes pró e contra o impeachment.

 

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Image caption Deputados trocaram insultos no início da sessão

 

4. “Tchau, querida”

 

A frase usada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acabar a conversa com Dilma no polêmico telefonema divulgado pelo juiz Sergio Moro virou bordão dos deputados pró-impeachment.

 

“Tchau, querida”, diziam cartazes levados ao plenário.

 

Muitos também acabaram seu discurso com a frase, entre eles Elizeu Dionízio (PSDB-MS) e Alexandre Leitte (DEM-SP).

 

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5. “Nojo” de Temer

 

Em seu discurso na tribuna, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Silvio Costa (PT do B-PE), disse ter “nojo” do vice-presidente Michel Temer por querer “arrancar” o mandato de Dilma e chamou Cunha de “cachorro morto”.

 

“Depois que descobriram as contas dele na Suíça, eu parei de bater no deputado Eduardo Cunha. Parei porque ninguém chuta cachorro morto, mas hoje vou ter que bater porque o cachorro continua latindo”, disse.

 

“Outro cara de quem estou com nojo é Michel Temer. E eu não tenho outra palavra que não nojo. Faz dois anos que ele vem conspirando contra a presidente.”

 

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Image caption Silvio Costa fez um discurso exaltado em que chamou Cunha de ‘cachorro morto’

 

6. Renúncia pelo “sim”

 

Ao declarar seu voto a favor do afastamento de Dilma, o deputado Alfredo Nascimento (PR-AM) renunciou à presidência nacional do PR, partido que havia instruído seus correligionários a votarem contra o impeachment. A decisão causou surpresa no plenário.

 

Antigo aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Nascimento foi ministro dos Transportes de Dilma. Ele deixou o cargo após ser acusado de participar de um esquema de corrupção dentro do ministério, mas nega as acusações.

 

“Numa reunião do nosso partido, o partido decidiu encaminhar o voto ‘não’. Em respeito ao meu partido, aos meus colegas parlamentares, quero comentar que renuncio à presidência do PR porque entendo meu voto de forma diferente. Meu voto pertence ao povo do Amazonas, que me botou na vida publica há 30 anos. Voto sim”, disse Nascimento.

 

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Image caption Ex-ministro de Dilma, Alfredo Nascimento votou pelo impeachment

 

7. Cunha entre vaias, aplausos e ameaças

 

Ao proferir seu voto pelo impeachment, o presidente da Câmara foi, primeiro, vaiado e, logo em seguida, aplaudido.

 

Seu discurso ao votar foi um dos mais breves: “Que Deus tenha misericórdia desta nação.”

 

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Image caption Alvo de ataques de deputados anti-impeachment, Cunha fez discurso breve ao votar

 

Ao proferir seu voto a favor do impeachment o deputado Expedito Netto (PSD-RO) ameaçou Cunha.

 

“Gostaria de dizer que hoje estamos votando o processo de impeachment da Dilma, mas amanhã é o seu (dirigindo-se ao presidente da Câmara). Contra a corrupção, venha ela de onde vier. Voto sim!”

 

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Image caption Expedito Netto ameaçou Cunha ao votar pelo impeachment de Dilma

 

8. “Pelos militares de 64”

 

Sem preocupação com as comparações com o golpe de 64, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e seu pai Jair Bolsonaro (PSC-RJ) dedicaram seus votos pelo impeachment aos militares que destituíram João Goulart há 52 anos.

 

“Pelo povo de São Paulo nas ruas com o espírito dos revolucionários de 32, pelo respeito aos 59 milhões de votos contra o estatuto do desarmamento em 2005, pelos militares de 64, hoje e sempre, pelas polícias, em nome de Deus e da família brasileira, é sim. E Lula e Dilma na cadeia”, disse Bolsonaro filho.

 

“Perderam em 64 e perderam agora em 2016”, ecoou Bolsonaro pai, que dedicou seu voto à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi em São Paulo, órgão de repressão política que foi palco de torturas durante o regime militar.

 

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Image caption Filho de Jair Bolsonaro não teme comparações com golpe de 64

 

9. “Por Marighella”

 

Em seu voto contra o impeachment, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) também fez referência a figuras históricas – mas do outro lado do espectro político.

 

Ele citou o líder guerrilheiro Carlos Marighella, considerado um dos maiores inimigos da ditadura.

 

“Senhor Eduardo Cunha, o senhor é um gangster. O que dá sustentação a sua cadeira cheira a enxofre. Eu voto por aqueles que nunca escolheram o lado fácil da história. Voto por Marighella, por Plinio de Arruda Sampaio, por Luis Carlos Prestes, eu voto por Olga Benário, eu voto por Zumbi dos Palmares, eu voto não.”

 

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Image caption Glauber Braga citou líder guerrilheiro ao votar contra impeachment

 

10. “Pela paz em Jerusalém”

 

Discursando pelo PROS, o deputado Ronaldo Fonseca (DF) disse que o discurso de que o impeachment seria “golpe” não passa de “diarreia verbal”.

 

Coordenador da Bancada da Assembleia de Deus na Câmara, ao anunciar seu voto Fonseca mostrou preocupação pelo conflito no Oriente Médio.

 

“Sem medo de ter esperança e com a convicção de que a Constituição Federal ampara essa sessão. Pela paz em Jerusalém, eu voto sim”, disse.

 

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Image captionPastor da Assembleia de Deus, Fonseca lembrou conflito no Oriente Médio em seu voto

 

11.”Hipocrisia por metro quadrado”

 

Em um dos votos mais aplaudidos do lado governista, a deputada Professora Marcivania (PCdoB-AP) denunciou o que na sua avaliação seria a “hipocrisia” dos que votavam pelo impeachment.

 

“Eu acho que nunca vi tanta hipocrisia por metro quadrado, dizer que vai lutar contra a corrupção colocando Temer e Cunha no poder. O povo sabe e vai enxergar isso”, disse.

 

Câmara dos Deputados
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Image caption O deputado Bruno Araújo chorou ao dar o voto decisivo

 

12. O 342º voto pelo impeachment

 

O deputado Bruno Araújo (PSDB–PE) se emocionou e chorou ao dar o voto decisivo para a aprovação do impeachment.

 

“Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. Senhoras e senhores, Pernambuco nunca faltou ao Brasil. Carrego comigo nossa história de luta pela democracia. Por isso, digo ao Brasil ‘sim’ pelo futuro”, disse.

 

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Image caption O deputado Bruno Araújo chorou ao dar o voto decisivo

 

13. Cusparada em Bolsonaro

 

O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) cuspiu em direção ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) após declarar seu voto contrário à abertura do processo de impeachment de Dilma. Ele justificou a atitude dizendo ter sido insultado e agarrado pelo colega.

 

“Ele merece. Cuspiria na cara dele quantas vezes eu quisesse”, afirmou Wyllys.

 

Bolsonaro disse que só “30%” do cuspe o atingiu.

 

Wyllys declara seu voto
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Image caption O deputado Jean Wyllys declara seu voto

 

SOBRE O CUSPE AO FASCISTA por Jean Wyllys

Depois de anunciar o meu voto NÃO ao golpe de estado de Cunha, Temer e a oposição de direita, o deputado fascista viúva da ditadura me insultou, gritando “veado”, “queima-rosca”, “boiola” e outras ofensas homofóbicas e tentou agarrar meu braço violentamente na saída. Eu reagi cuspindo no fascista. Não vou negar e nem me envergonhar disso. É o mínimo que merece um deputado que “dedica” seu voto a favor do golpe ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército durante a ditadura militar. Não vou me calar e nem vou permitir que esse canalha fascista, machista, homofóbico e golpista me agrida ou me ameace. Ele cospe diariamente nos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Ele cospe diariamente na democracia. Ele usa a violência física contra seus colegas na Câmara, chamou uma deputada de vagabunda e ameaçou estuprá-la. Ele cospe o tempo todo nos direitos humanos, na liberdade e na dignidade de milhões de pessoas. Eu não saí do armário para o orgulho para ficar quieto ou com medo desse canalha.

‪#‎FascistasNãoPassarão‬

Foto: Oliver / Mídia Ninja

 

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Fonte: BBC Brasil


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