DEM usa publicidade na TV para pregar impeachment e saudar o ‘novo governo’

Beneficiado por uma coincidência de calendário, o DEM exibirá sua propaganda partidária na noite desta quinta-feira (13), a 72 horas da votação do pedido de impeachment na Câmara. A peça tem dez minutos, dos quais 60% são dedicados a pregar a deposição de Dilma Rousseff e a saudar, por assim dizer, a chegada de um “novo governo”. Sem mencionar o nome do vice-presidente Michel Temer, o DEM praticamente se oferece para participar de um ainda hipotético governo do PMDB.

 

“Os brasileiros gritam: fora Lula, fora Dilma, porque sabem que nada de bom vai acontecer enquanto o país não tiver um novo governo”, declara o presidente do DEM, senador José Agripino Maia, no final do comercial. “O Brasil merece e exige o recomeço. E o DEM está pronto para ajudar, com ideias e propostas, a construir um novo caminho para o nosso Brasil.”

 

A veiculação da propaganda do DEM foi agendada na Justiça Eleitoral em dezembro do ano passado. Por mero capricho do tempo, calhou de ir ao ar às vésperas do impeachment de Dilma. E a legenda, velha rival do petismo, cuidou de converter a coincidência numa oportunidade a ser aproveitada.

 

O comercial abre com cenas gravadas em protestos contra o governo e o PT. Ouvem-se os bordões “fora, Dilma” e “fora, PT”. Surge na tela a inscrição: “Impeachment já”. E Agripino, manuseando uma metafórica pá de cal: “O governo do PT acabou. […] É hora de um novo começo para o Brasil.”

 

Todas as líderanças escaladas para falar na propaganda endereçaram coroas de flores para o Planalto. “…Não temos mais tempo a perder. É preciso agir rápido para mudar o rumo e começar a construir um novo Brasil”, diz, por exemplo, Pauderney Avelino, líder na Câmara. “…Somente um novo governo, com força política e credibilidade será capaz de tirar o Brasil desta crise”, ecoa Ronaldo Caiado, líder no Senado.

 

“Precisamos reconstruir a Petrobras e o setor elétrico, e garantir que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça continuem fazendo o seu trabalho, doa quem doer”, afirmou Mendonça Filho, líder da oposição na Câmara, tocando num tema que nem Michel Temer se animou a abordar no discurso antecipado de posse que “vazou” para correligionários.

 

Suprema ironia: no epílogo do governo de Fernando Collor, em 1992, o presidente reformou seu ministério para tentar salvar o mandato. Vivia às turras com o Congresso. E, sentindo que o chão lhe fugia dos pés, atraiu para a coordenação política do governo o ex-senador catarinense Jorge Bornhausen, do então PFL, hoje rebatizado de DEM. Era tarde demais. Derretido, o governo Collor escoava pelo ladrão. O vice-presidente Itamar Franco, tratado por Collor a pontapés, já havia inaugurado a temporada de conversas com a oposição.

 

Hoje, o ministro sem pasta Lula, tenta providenciar para Dilma o socorro que Bornhausen, velho desafeto do petismo, não conseguiu prover para Collor. A diferença é que agora o DEM está do outro lado do balcão, articulando a favor do impeachment.

 

Dilma, Lula e o PT só não apanharam durante os dez minutos de duração da propaganda do DEM porque a legenda dedicou cerca de quatro minutos para trombetear a gestão de ACM Neto na prefeitura de Salvador. Ele é candidato à reeleição. Em 2018, deve disputar o governo da Bahia em coligação com o PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima, amigo de Michel Temer.

 

Josias de Souza


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