GRUTA DO LEÃO – SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE RIO CLARO TRANSFORMADO EM LIXÃO E PONTO DE PROSTITUIÇÃO

RIO CLARO NO RETROCESSO:

GRUTA DO LEÃO – SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE RIO CLARO

TRANSFORMADO EM LIXÃO E PONTO DE PROSTITUIÇÃO

Jenyberto Pizzotti

Emoldurando e iniciando esse artigo com a notícia de que a nova administração municipal, após tomar posse em janeiro, irá reduzir a verba com a Cultura em Rio Claro em 50 %, alertamos e registramos o total descaso e abandono, da atual e das administrações anteriores, para com o sítio arqueológico denominado “Gruta do Leão” no Jardim Público, Avenida 2 com Rua 4.

A Gruta do Leão foi provavelmente construída por Samuel Coli, natural de Lucca, Itália, e que fixou residência e formou família em Rio Claro por volta de1874. O senhor Samuel foi o construtor da antiga “Cascata do Jardim”, onde hoje está o “Lago de Diana, a Caçadora (lenda grega).

(Vide fotos na Revista Eletrônica “Rio Claro Online” clicando no link da revista)

Após um interessante trabalho de escavações desenvolvido por arqueologistas e historiadores, e o início de visitações até por estudantes de escolas de ensino fundamental, o local foi, de forma estranha e não muito bem explicado, lacrado e abandonado.

Hoje (há muito tempo) o local foi transformado em um lixão em pleno jardim, local onde à noite, indigentes fazem suas necessidades fisiológicas, e durante o dia o local tem servido como ponto de prostituição. Isso tudo sobre as barbas da omissa e negligente administração pública municipal, e das autoridades e do policiamento que deveriam atuar de forma mais séria na defesa do Patrimônio Público, da História e da Cultura de Rio Claro.

“Coragem para Mudar Rio Claro”, não pode ser só um slogan para se ganhar uma eleição. “Coragem para Mudar Rio Claro” envolve sobretudo comprometimento, não com grupos que se revezam no poder para defender seus próprios interesses, mas com colocar os interesses coletivos do povo rioclarense e o Bem Comum acima de tudo.

A Cultura em Rio Claro, e todas as pessoas que nela atuam (funcionários municipais), e as organizações que a representam, como Bibliotecas Públicas, Pinacoteca, Museus, e profissionais como arqueólogos, restauradores, bibliotecários, produtores de eventos artísticos e culturais, artistas e literatos, e tudo que envolve a Cultura, merecem apoio, incentivo e cada vez mais investimentos, sejam públicos e/ou privados, NÃO CORTES.

Sobre a importância desse sítio arqueológico, hoje abandonado, transcrevo aqui um excelente artigo de Lourenço Favari com colaboração da arqueóloga Maryzilda Couto Campos publicado na Revista do Arquivo – Junho 2011 – Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, sobre o trabalho de escavações realizado na Gruta do Leão.

Fonte: Revista do Arquivo – Junho 2011 – Do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro

“A Gruta do Leão – O imaginário, o Redescobrimento e a Inclusão nos Registros Históricos”

Autor:Lourenço Favari

Colaboração: Maryzilda Couto Campos

Famosa pelas histórias que a cercam, a Gruta do Leão, localizada no Jardim Público de Rio Claro, sempre despertou interesse da população e também dos órgãos administrativos. A arqueóloga Maryzilda Couto Campos lembra que foi procurada pela prefeitura na passagem dos anos 80 para os anos 90 para descobrir o local exato que estaria enterrada a edificação. “Fui procurada pela prefeitura de Rio Claro e pelas funcionarias do Arquivo Público para realizar uma prospecção para identificar onde ficava a gruta do leão”, disse.

De acordo com a arqueóloga, a iniciativa começou após a descoberta de uma foto que registrava duas senhoras e uma criança e ao fundo figurava a gruta artificial. “Algumas informações indicavam que a gruta ficava em frente do Cinema Excelsior. Assim, aproveitando um fim de semana prolongado que estive na cidade, com a ajuda dos funcionários da prefeitura realizei um corte no local indicado, mas nada foi encontrado”, pontua.

No entanto, Maryzilda, que contava com a experiência de 20 anos na área arqueológica, propôs a realização de uma nova busca. “Escolhi um local onde a vegetação era mais baixa e o nível do canteiro do jardim mais alto, e logo no início da escavação apareceu uma cúpula de tijolos e cimento, na esquina da Rua 4, com a Avenida 2, em frente da Telefônica”, destaca argumentando que no momento não existia condições de realizar uma escavação arqueológica, desse modo, tapou novamente os vestígios e aguardou uma nova oportunidade.

Muito tempo depois a profissional retornou para Rio Claro para desenvolver outro trabalho: o Projeto do Túnel da Rua 6. “Enquanto esperava a autorização para pesquisa do IPHAN, aproveitamos e demos andamento na escavação da Gruta do Leão e aplicação de métodos geofísicos para identificação de objetos enterrados”.

Ela recorda que aconteceu uma movimentação geral no Jardim Público. “As pessoas passavam e contavam histórias. Meu pai contava que tinha um Leão velho, minha avó disse que o leão foi abandonado pelo Circo, disseram também que o Leão era de mármore branco, outros que era de granito preto”. E os mistérios acerca do local só aumentavam e existem até hoje.

Maryzilda revela que gostou da reação da população e realizou um questionário para especular a memória dos transeuntes, além de descobrir quem acertaria de fato o que estava enterrado.

“Abrimos a gruta pelas beiradas. Só ficou fechada ao meio, onde ficava a entrada da ‘Toca’ e não ‘Gruta’ como foi chamada anteriormente.

O Leão era de argila misturada com cimento e fragmentos de tijolos. Estava todo quebrado, suas patas dianteiras eram mãos femininas e seus olhos pintados com uma sombra anil”, revela.

De acordo com os registros oficiais a edificação teria sido construída no final do século XIX e se tratava de uma atração no jardim, onde os pais passeavam com os filhos. “Evidência disso foram os brinquedos encontrados no decorrer das escavações, outros materiais encontrados foram as pinhas de ferro que adornavam o gradil que fechava o jardim, portanto associamos o seu aterramento com a época da retirada das grades que cercavam o jardim”.

Vale ressaltar que o Jardim Público era cercado por grades e visitado apenas por famílias tradicionais e de alto poder aquisitivo do município. Depois da abertura do local e a retirada das proteções construídas em aço, o portão de entrada foi recondicionado na entrada da Santa Casa de Misericórdia, localizado na Rua 2, com a Avenida 15.”

Revista do Arquivo | Rio Claro | Junho 2011

Jenyberto Pizzotti para Rio Claro Online

jenyberto@yahoo.com.br

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