Bem por cima
Expressões como “Deep Web” ou “surfar/navegar na web” vêm da percepção da internet como um oceano. Os sites que você acessa normalmente seriam como a superfície desse mar. Esses endereços contêm dados reconhecidos (e catalogados) pelos buscadores, facilitando o acesso de qualquer usuário. Mas nem o “todo-poderoso” Google encontra 100% do conteúdo da internet…
Fora do radar
Existem páginas “fechadas” que um mecanismo de busca tradicional não consegue achar. Elas podem ser, por exemplo, uma área de um site comum restrita com login e senha. Ou pertencer à rede interna de uma empresa. Ou são endereços escondidos propositadamente dos buscadores, com endereços bizarros. Todo esse conteúdo inacessível é aDeep Web(“internet profunda”)
Uma vastidão oculta
O termo Deep Web foi usado pela primeira vez pelo especialista Michael Bergman em 2000, quando ele apontou a incapacidade dos motores de busca de indexar essas páginas. Em geral, esses sites são gerados dinamicamente e criptografados (ou seja, codificados para gerar maior segurança). Estima-se que a Deep Web seja 500 vezes maiorque a internet catalogada
Mergulhando com segurança
Como boa parte do conteúdo nessas “profundezas” está encriptado, é preciso ferramentas diferentes para acessá-lo. Um navegador bastante usado para acessar na Deep Web é o Tor. Sua origem não tem nada de “maligna”: ele foi desenvolvido nos anos 90 por matemáticos da Marinha norte-americana para proteger as comunicações de inteligência do país
Ainda mais escura
A intenção de esconder conteúdos era até positiva: proteger informações confidenciais, como as de um governo ou de uma empresa. O problema é que esse anonimato atraiu praticantes de atividades ilegais, como tráfico de drogas e armas, fraudes e pedofilia. Tudo isso constitui um setor específico e assustador da Deep Web: a Darknet (“rede sombria”)
Mistérios da Deep Web: Todo site na Deep Web é maligno?
Liberdade de expressão
O sigilo é essencial para driblar a censura em países onde a internet é controlada, como o Irã e a China. Nesta última, por exemplo, 80% das newsletters da Human Rights Watch(ONG que fiscaliza direitos humanos) são enviadas dessa maneira, para proteger os destinatários. Durante as revoltas iranianas em 2009, o total de usuários locais na Deep Web triplicou
Podres revelados
“Não dá para subestimar a importância do navegador Tor para o Wikileaks“, declarou o fundador do site, Julian Assange, à revista Rolling Stone. O site, usado para vazar denúncias e informações sobre governos, surgiu na Deep Web e pretendia ficar por lá. Mas a confirmação de vários dados divulgados e o aumento dos page views forçaram sua indexação nos buscadores
Para saber mais
Muitas universidades do mundo todo mantêm seus bancos de dados nas profundezas secretas da web. Nela, é possível encontrar mecanismos específicos de busca para conteúdo das bibliotecas de várias instituições, como a Universidade da Califórnia e Oxford. Há sistemas de pesquisas específicos por temas, como medicina, ciências e negócios
Vai e vem
O FBI estima que a espionagem industrial custa, ao ano, US$ 13 bilhões aos EUA. Nesse cenário, não dá para empresas usarem a net comum para enviar dados. “É o caso dasmontadoras de carros, cujos produtos podem passar anos em fase de planejamento e suas peças podem ser produzidas em vários países”, diz Ilya Lopes, especialista de Awareness Research da Eset Brasil
Não foram só R$ 0,20
As revoltas brasileiras de junho de 2013 também tiveram um pezinho na Deep Web. É por ela que se comunicam os ativistas do Anonymous, que mobilizaram muitas manifestações. Esse grupo, que atua internacionalmente desde 2003, exige anonimato (daí seu nome e o uso da máscara de Guy Fawkes) e alega combater instituições que controlam a liberdade
Mistérios da Deep Web: Como ela torna a navegação secreta?
1. Tor, na verdade, é uma sigla para “The Onion Router” (“O Roteador Cebola”). Assim como esse vegetal, a navegação do usuário é dividida em várias “camadas”, em vez de traçar uma rota direta entre computador e servidor final. É como se você fizesse um caminho mais longo e maluco da escola até sua casa para evitar que alguém o seguisse
2. O navegador que libera a conexão à rede Tor tem várias funções de segurança – como ocultamento de IP (número que identifica seu computador) e bloqueio de conteúdos com Flash e JavaScript. Antes de enviar a mensagem do usuário, o Tor primeiro a tornacriptografada, ou seja, a converte num código. Então, repassa-a para a rede Tor
3. A rede Tor é formada por uma cadeia de quatro pontos: você, uma porta de entrada (que varia sempre), vários distribuidores (os “relay nodes”) e a porta de saída. A cada distribuidor que a informação é repassada, ela é recriptografada. E cada relay node só conhece um “trecho” do caminho: quem enviou o dado para ele e para quem ele o enviará
4. Todo esse jogo de passa e repassa acaba tornando o uso do Tor mais lento que o de um navegador comum. E a rota completa muda a cada dez minutos. Só o último participante, o da porta de saída, é quem envia a informação de volta à internet de superfície, rumo ao servidor final. Nesse ponto, portanto, ela se torna novamente vulnerável à interceptação
Mistérios da Deep Web: Quais os piores crimes que ocorrem lá?
Mandando bala
O anonimato atrai todo tipo de crime, criando o beco sujo da Deep Web: a Darknet. Em um documentário da Vice, um traficante alemão a classificou como um sistema prático e confiável para vender armamentos. Lá, dá para encontrar desde facas e revólveres até explosivos e rifles, como o Bushmaster M4, das forças armadas afegãs. Um fuzil AK 47 sai por US$ 2,8 mil. O maior site desse tipo tem cerca de 400 itens à venda
O homem que copiava
Em fóruns da internet profunda, é fácil encontrar referências a um tal Mr. Mouse (“Senhor Rato”) e seus “Disney Dollars”. Não é dinheirinho fofo para usar no Magic Kingdom, não: são notas falsificadas de US$ 20, 50 e 100. Ele garante que o dinheiro consegue até mesmo passar no teste que comerciantes realizam para diferenciar uma cédula falsa de uma verdadeira
Delivery de droga
Uma jornalista do The Guardian usou nome falso para comprar 1 g de maconha, por 1,16 bitcoin. Em dois dias, a erva chegou à sua casa, em Londres, em um envelope. Segundo ela, os sites de drogas na Darknet são tão organizados quanto o eBay ou o Airbnb na net comum. Os tóxicos são até separados por preço, qualidade, origem e efeitos
Dupla identidade
O jornal australiano The Newcastle Herald relatou o caso de um adolescente de 16 anos que solicitou uma carta de motorista falsificada por US$ 140. Ele recebeu a encomenda três dias depois. Uma identidade norte-americana sai por volta de US$ 1.000 e a britânica, por cerca de 2,6 mil libras. Também são vendidos passaportes falsos de várias nacionalidades
Cartões de crédito à venda
Em dezembro de 2013, dados referentes a 40 milhões de cartões de crédito foram roubados por uma falha de segurança durante a “black friday”, tradicional data de ofertas nos EUA, após o feriado de Ação de Graças. Adivinhe onde essas informações foram vendidas? Sim, em lotes na Deep Web, facilitando a vida de fraudadores no mundo todo
Infância destruída
Provavelmente, o conteúdo mais chocante da Darknet são os filmes e fotos de pornografia infantil. Segundo a ECPAT, uma coalizão internacional de organizações da sociedade civil que luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes, há até mesmo streaming de vídeos ao vivo em que crianças são coagidas a realizar atos sexuais
E MATADORES DE ALUGUEL?
Jornal diz que eles também estão lá, mas especialistas acham que o periódico foi enganado
O jornal britânico Daily Mail publicou uma vasta matéria sobre assassinos de aluguel na Deep Web, inclusive com declarações chocantes coletadas em sites que os agenciavam(vide abaixo). Mas especialistas acreditam que as páginas podem ser falsas. Os preços, por exemplo, seriam impraticáveis em bitcoin (10 mil libras por uma morte nos EUA, 12 mil por uma na Europa). Além disso, esse tipo de profissional utilizaria preferencialmente sites temporários, correndo menos risco de ser pego pela lei.
Algumas das supostas confissões reunidas pelo Daily Mail em sites da Darknet:
– “Sempre faço meu melhor para que a morte pareça um acidente ou suicídio”
– “Não tenho mais empatia por seres humanos”
– “O melhor lugar para colocar seus problemas é num túmulo”
– “Matar é errado. Mas, como essa é uma direção inevitável da evolução tecnológica, prefiro que eu mesmo faça, não outra pessoa”
MOEDA DE TROCA
Entenda por que o bitcoin é a grana favorita na Deep Web
O bitcoin é uma moeda digital criada em 2009 por um programador com o pseudônimo Satoshi Nakamoto. Ela só existe online e as transações são criptografadas, de modo que os usuários podem ser anônimos. Foi isso que impulsionou seu uso no mercado negro virtual. Em vez de usar contas bancárias de uma instituição financeira como intermediária, os valores gastos com o bitcoin são transferidos entre endereços da web, chamados “carteiras”, por um computador ou smartphone. O sistema utiliza um banco de dados espalhado pela internet para registrar as transações e usa criptografia para garantir segurança e certificação.
Mistérios da Deep Web: Quais criminosos já foram presos?
Rota interrompida
O maior site de drogas da Deep Web, o Silk Road (“Rota da Seda”) foi fechado em outubro de 2013 pela polícia federal dos EUA. O portal era como um eBay de atividades ilícitas. Seu comandante, o norte-americano Ross W. Ulbricht, de 30 anos, foi preso. Outros oito envolvidos também foram detidos e 29,6 mil bitcoins foram apreendidos
Predadores e presas
Mais de 660 suspeitos de pornografia infantil foram presos após uma investigação de seis meses liderada pela Agência Nacional de Crimes da Grã-Bretanha, em agosto de 2014. Apenas 39 já tinham antecedentes criminais relacionados a sexo – ou seja, 94% dos suspeitos estavam fora do radar da polícia. Mais de 400 crianças foram resgatadas e receberam proteção policial
Paisana virtual
Agentes da polícia holandesa se passaram por usuários querendo encomendar um assassinato – e assim conseguiram evidências para fechar o Utopia, site que vendia armas, drogas e serviços ilícitos, poucos dias após seu lançamento, em fevereiro de 2014. Cinco homens foram presos: um deles na Alemanha, onde era baseado o site, e o restante na Holanda
No Brasil também
Em outubro de 2014, após uma operação coordenada em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal, a polícia prendeu 51 pessoas suspeitas de crimes de pedofilia na Deep Web. A iniciativa envolveu cerca de 500 agentes e, entre os investigados, havia empresários, padres e até outros policiais. Ao menos seis crianças foram resgatadas de abuso ou estupro iminente
Uma verdadeira epidemia
O jovem russo Aleksandr Andreevich Panin, de 20 anos, foi preso em março de 2014 por desenvolver o SpyEye, um dos vírus de computador mais destrutivos já lançados, e comercializar versões “customizadas” a criminosos virtuais. O software infectou mais de 1,4 milhão de computadores, recolhendo credenciais de contas bancárias, números de cartões e senhas
Fonte: Mundo Estranho