Segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel e da Unecs, uma desvantagem da mudança no cartão para o comerciante é que ele vai ter menos liberdade para estabelecer o preço
Vendas no Carnaval ou na Copa? Nem uma coisa nem outra. O tema que tem preocupado comerciantes nos últimos dias são as mudanças no parcelamento de compras sem juros no cartão -uma tradição brasileira que representa aproximadamente R$ 400 bilhões, equivalente a 7% do PIB do país.
O Banco Central avalia a criação do parcelamento com juros no cartão de crédito. A ideia é da Abecs (Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), que defende a volta de uma espécie de crediário nas compras do brasileiro. A Abecs é dominada pelos grandes bancos, que possuem 78% de participação do mercado de maquininhas e 93% do mercado de emissão de cartões, segundo dados do CardMonitor e balanços financeiros dos bancos.
Entidades como Abranet (Associação Brasileira de Internet), Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Abipag (Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos), Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e Unecs (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços) condenam a iniciativa por prejuízos ao comércio e aos consumidores.
Comércio fica mais dependente dos bancos, diz Abrasel
Segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel e da Unecs, uma desvantagem da mudança no cartão para o comerciante é que ele vai ter menos liberdade para estabelecer o preço. “O lojista não consegue fazer política de financiamento, depende do banco. O financiamento será direto do cliente com o banco, e o comerciante fica sujeito a isso.”
Também desestimularia a compra por parte do consumidor. “Como o comerciante fica mais dependente do banco, é mais difícil fazer promoções com prazos diferentes, e isso pode afastar o consumidor”, diz.
Para ele, o crédito vai ficar mais caro. “Dificulta e encarece crédito para o lojista porque hoje ele usa dinheiro a receber (recebíveis, venda futura no cartão de crédito) como garantia para pegar empréstimo no banco. Com isso, o empréstimo ao lojista pode encarecer porque ele não dispõe de outras garantias.”
Abranet vê retrocesso que prejudica consumidor e economia
O presidente da Abranet, Eduardo Parajo, diz que o parcelamento sem juros foi um avanço para o consumidor e agora está sob risco. “O parcelamento sem juros no cartão é muito importante para o consumidor, para os lojistas e para a economia. Vendas parceladas sem juros representam mais de 50% das vendas com cartão, totalizando R$ 400 bilhões (7% do PIB). Quando substituiu o cheque pré-datado, décadas atrás, diminuiu os custos para consumidores, lojistas e aumentou a eficiência do sistema.” Na sua opinião, o parcelado sem juros é “uma conquista do consumidor brasileiro e é fundamental para os lojistas venderem mais”.
Para ele, o cliente pode se endividar mais se houver mudanças. “A proposta de criação de um parcelado com cobrança de juros ao consumidor encarece o uso do cartão e, por isso, há retrocesso e risco de maior endividamento do encarece o uso do cartão e, por isso, há retrocesso e risco de maior endividamento do consumidor. Isso porque, além de pagar os juros mensais na nova modalidade de parcelado (com juros), o consumidor continuará exposto a juros de parcelamento e rotativo (mais de 100% ao ano). E o cheque pré-datado e o papel-moeda voltariam à cena, o que onera o lojista (fraudes, roubo, manuseio de papel moeda, cheques sem fundo etc) e expõe o consumidor aos problemas antigos, bem como aos altos juros do cheque especial.”
Fonte: Uol