Relato do Professor Edivan agredido e preso pela Policia na E.E. José Lins do Rego:
“Não é o corpo que dói
Não são os braços marcados pelas algemas
Não é a cabeça inchada pelos golpes
…e nem é a dor da vergonha por sair algemado como um criminoso num carro da polícia
…algo que em tempos que o tempo não me deixa esquecer, prometi aos meus pais que jamais aconteceria.
Minha revolta nem é contra a PM
…contra policiais, trabalhadores que se vêem convertidos a engrenagens de um sistema cruel que converte trabalhadores em algozes de trabalhadores.
Minha dor é a dor que corrói as entranhas de uma sociedade doente , onde defender o justo , o correto , o digno e o óbvio constitui um crime.
Não invadi a escola
Não destruí uma ponta de lápis do patrimônio público
Não estimulei violência de qualquer natureza
Não me satisfez ver sangue num espaço que deveria estimular sonhos.
Amo a profissão que abracei
Amo a possibilidade de dialogar com vidas
de estimular seus potenciais, seus sonhos e seu desejo inalienável e sagrado de ser feliz.
Há tão poucas décadas reconquistamos o direito a voz que pode dizer …
Há tão poucas décadas nossas escolas puderam provar o gosto doce da liberdade , da criticidade e do debate democrático.
Que a nossa geração não permita que isto morra …que escolas sejam espaços de diálogo , de debate, de tensões (a unanimidade é perigosa) …que a comunidade escolar (estudantes , professores e gestores) possam construir …e construção meus amigos , não é silêncio, não é cerceamento, não é intimidação.
O que me dói, de verdade …no corpo e na alma …é ser um educador , num estado em que
a educação pública agoniza …e se debate em medidas paliativas, implementadas de forma unilateral e autoritária.
Agradeço imensamente a todos que de um modo ou de outro externaram apoio e solidariedade num momento tão difícil.
Agradeço o carinho de colegas, país e estudantes que tanto amo !!
Que o retrocesso e o obscurantismo não encontrem morada nestes dias em que fomos agraciados com a vida!
Muito Obrigado!
Estou bem e em casa.
Vida que segue …luta que não pode retroceder!”