É sempre assim. Se você está solteiro “tem que encontrar alguém”. Se está sofrendo “tem que superar”.
Para cada situação, lá vem um “tem que”, associado a alguma ação, seja, esquecer, ou revidar, ou vingar-se, sair, mudar, vencer, parar, fazer algo.
No consultório, eu ouço muito essa expressão saindo da boca dos pacientes de maneira espontânea até. Mas não foi assim que elas entraram. Os “tem que”, vindos dos outros ou da própria consciência, sempre chegam de forma arbitrária e tirana. Eles nunca apresentam outras opções, não te permitem pensar sobre e, o pior, fazem-no refém dele mesmo.
Eu até posso entender quando uma pessoa que está sofrendo, queira e até mereça sair dessa condição. Mas daí a “ter que superar”, vira um peso, uma ditadura.
Então, todas as vezes que aparece essa expressão “tenho que…” eu já nem preciso ouvir o que vem depois, porque a dinâmica é sempre a mesma. Eu pergunto ao paciente: “E o que você acha que deveria fazer para ter que mudar essa situação”? A resposta é muito importante, pois geralmente é uma combinação de medidas radicais, desesperadas e, infelizmente, forçadas.
Se você entender que “você não tem que nada”, então minha missão neste texto terá sido cumprida.
Veja bem, essa expressão imperativa rouba o seu jeito de lidar com a situação, tira de você a espontaneidade, o quando e o como fazer as coisas. Eu não quero que você aceite a situação de braços cruzados, mas perceba e encontre a melhor maneira para lidar com ela e, essa maneira, não necessariamente sirva para todas as pessoas em todas as situações, pois ela é a sua maneira, fruto do quanto você se conhece, refletiu sobre a situação, entendeu como chegou até este ponto e sabe o que – realmente – precisa nesse momento.
O problema é que, às vezes, tentamos nos sabotar – isto é assunto para outro texto – mas não podemos evitar o sofrimento.
Faz parte do s-e-r-h-u-m-a-n-o sentir a dor, a solidão, a falta, a carência, nem sempre e nem para sempre, mas evitar isso a qualquer custo, de qualquer maneira, é enganoso. É substituir um sofrimento por um futuro sofrimento.
Quando vier a sensação de “tenho que”, saiba que você não tem que nada. Não faça nada se achar que não sabe o que fazer. Espere. E o que você decidir fazer, faça sendo você mesmo, faça por você.
Fonte: O Segredo