Reprodução do Editorial do Justificando
O Justificando nasceu em 2014 com a proposta de ser um espaço para as vozes plurais de juristas contestadores, movimentos sociais, acadêmicos, atores culturais, minorias e pessoas progressistas em geral que estejam engajados na luta por Democracia e Direitos Humanos.
Essa brevíssima narrativa da nossa história já é suficiente para explicar o porquê de o Justificando aderir a campanha #EleNão e se posicionar institucionalmente contra a candidatura de Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL). Nós temos lado e responsabilidade enquanto veículo de imprensa. Não nos esquivaremos de nos posicionar assertivamente neste grave momento para a democracia no Brasil.
Afinal, o deputado de extrema-direita se diz abertamente contra os Direitos Humanos e já proferiu diversas declarações de cunho antidemocrático, algumas delas transformadas em promessas de campanha inconstitucionais; Cresceu politicamente com um discurso populista autoritário que instrumentaliza o medo e o ódio, abusando da disseminação de informações falsas de viés sensacionalista; Se utiliza frequentemente da sua garantia de imunidade parlamentar para fazer menções elogiosas, ou no mínimo questionáveis à crimes como o estupro, lesão corporal, homicídio, sonegação de impostos, tortura, além das rotineiras ofensas e ataques a mulheres, pessoas negras, LGBTIs, quilombolas, indígenas e imigrantes; E defende a existência de duas categorias de pessoas, os “cidadãos de bem” e os “bandidos” (às vezes chamados de comunistas, PTistas, esquerdistas, maconheiros, vagabundos…) prometendo aos primeiros proteção e privilégios e, aos segundos, a prisão e a morte – de modo que o candidato não é nem tão patriota, honesto ou cristão como gosta de se afirmar, não sendo exagero chamá-lo de fascista.
Porém, este editorial não pretende ser um “ataque pessoal” a quem quer que seja.
Como humanistas, defendemos os direitos fundamentais inclusive para Bolsonaro. Defendemos o direito à vida do candidato. Defendemos o seu direito à integridade física e à saúde. Defendemos seu direito à constituição de família, ao casamento, à paternidade. Defendemos o seu direito à propriedade privada, desde que obtida de forma lícita e desde que obedeça à sua função social. Defendemos o seu direito à liberdade, inclusive a liberdade religiosa e a liberdade de expressão, contanto que não sejam utilizadas para lesionar os direitos dos outros.
Entretanto, fato é que todos os demais candidatos, goste-se ou não de suas personalidades, concorde-se ou não com seus projetos de governo, possuem propostas democráticas que podem ser debatidas, negociadas, disputadas dentro do Estado Democrático de Direito. Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), José Maria Eymael (PSDC), Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU), João Goulart Filho (PPL), todos eles ao menos respeitam a ordem constitucional. Bolsonaro não.
Não se trata, portanto, de um ataque à pessoa de Jair Bolsonaro, mas sim da aversão ao que ele representa: um projeto de país injusto, excludente, antidemocrático e genocida.
Muito além da dicotomia direita ou esquerda, trata-se de constatar que, no atual contexto social e histórico, Bolsonaro significa a negação da política enquanto diálogo, pluralismo, tolerância e democracia. Flertar com o fascismo porque não se quer um governo de esquerda é muitas vezes apenas uma desculpa para legitimar outros ódios com os quais você se identifica.
Basta lembrar o paradoxo da tolerância para compreendermos a gravidade desta constatação: deve-se tolerar a todas e todos, exceto as condutas intolerantes, visto que estas violam precisamente a regra da tolerância, donde, se toleradas em sua intolerância, gerarão opressões e totalitarismos diversos, incompatíveis com a vida em sociedade.
E, neste sentido, não podemos esquecer que a Constituição Democrática de 1988 não está escrita em pedra ou garantida por nenhuma ordem natural: assim como foi conquistada ela pode ser retirada de nós.
As conquistas sociais no mundo foram adquiridas por meio de muito suor, luta e sofrimento daqueles que sangraram com a falta de direitos, ou resistiram até que eles fossem incorporados na vida das pessoas. Enfrentar uma candidatura que prega o extermínio dos ideais defendidos por Martin Luther King, Zumbi dos Palmares, Dandara, Rosa Parks, Dorothy Stang, Chico Mendes, dentre diversos outros, significa honrar nossos antepassados e barrar o fascismo que tende a assolar o Brasil. Nem um passo atrás diria Marielle Franco, completando o coro dos que resistem ao projeto fascista de poder.
Assim, assumindo um posicionamento propositivo, reconhecendo o papel da mídia no acesso à informação livre da influência de interesses econômicos que tantas vezes capturam as instituições democráticas, reconhecendo a responsabilidade inerente a nossa condição de informadores, o Justificando adere a campanha #EleNão. Porque acredita na Democracia e em um país onde vigore o Estado de Direito. Porque defende o respeito às normas nacionais e internacionais de direitos humanos. E porque luta – e sempre lutará – por um país onde possamos, mulheres, pretos, pretas, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, maconheiros, índios, quilombolas, professores, trabalhadores e pobres ter também o direito de existir com dignidade.
Ele não. Ele nunca.
A Redação Justificando
Nota da Rio Claro Online Revista Colaborativa sobre o Editorial do Justificando
A Rio Claro Online como mídia independente se posiciona sempre como a maioria dos nossos fiéis leitores já sabem, e é JUSTIFICANDO O NOSSO ELE NÃO, ELE NUNCA, ELE JAMAIS, que damos os parabéns para essas mentes inquietas que pensam direito do Editorial Justificando e aproveitamos para também nos posicionarmos para nossos internautas e fazermos das palavras desse grande canal de comunicação online que é o Justificando, as nossas.
Acreditamos sempre em um mundo livre e com justiça para tod@s, e para isso acontecer devemos ser ímpares, mas pares ao mesmo tempo e pensar coletivamente em tempos de retrocessos.
Por nenhum direito a menos – Ano de 2018 – Brasil.
A Redação Rio Claro Online