Damares Alves ministrou palestras em uma clínica de “restauração sexual” ligada a igrejas evangélicas que foram registradas em vídeos obtidos pela Fórum; jovem homossexual que foi “tratado” em um desses ambientes denunciou à reportagem a participação da ministra. Confira parte do material.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, apesar de dizer que não é homofóbica e que vai preservar os direitos da população LGBT, acredita que o sexo homossexual é uma “aberração” e classifica gays e travestis como “doentes”. Pastora evangélica, Damares aparece em vídeos divulgado nesta sexta-feira (4) pela Fórum dando tais declarações.
Os vídeos foram gravados entre 2013 e 2014 no Seminário Intensivo de Sexualidade (SEIS), que contou com palestras da ministra. O seminário, de acordo com X, um rapaz que preferiu não se identificar à reportagem por conta de possíveis retaliações, se trata, na verdade, de uma “clínica de restauração sexual” ligada a inúmeros segmentos da igreja evangélica. Ele esteve “internado” no local para “tratar” de sua homossexualidade quando Damares participou do tratamento como palestrante.
Em novos vídeos que Fórum divulga a seguir, a ministra aparece fazendo inúmeros tipos de ataques contra a população LGBT. Para dizer que a identidade de gênero não existe, por exemplo, ela chega a fazer a comparação esdrúxula entre gênero e espécie. “Se identidade de gênero é aquilo que eu acho que eu sou, eu posso dizer que sou um coelho. Então, o homem tem uma identidade biológica, macho, e tem uma identidade de gênero?”, diz.
Em outro registro, Damares segue pregando contra a identidade de gênero utilizando animais como exemplo. “O macho é macho. O cachorro macho nasce macho. Você não pode criar ele como fêmea. A menina nasce menina”, dispara.
Com um tom acalorado, a ministra se volta ainda contra o ensino de sexualidade e anti-homofobia nas escolas, que ela classifica como “doutrinação” e acredita que faça parte de um projeto “ideológico” da comunidade LGBT em coluio com “alguns” partidos políticos.
“Meu filho ninguém vai sodomizar!”, vocifera.
Tratamento de “restauração sexual”
De acordo com X, o jovem que relatou a “lavagem cerebral” que sofreu na clínica de restauração sexual onde Damares palestrou, o “tratamento” é destinado a “transtornos sexuais” que, para os organizadores, abarca a homossexualidade, por exemplo.
A “restauração”, segundo contou X, se dá através de uma espécie de confinamento dos “pacientes”, com regras rígidas de horários, saídas e de limpeza, com aulas em formatos de palestras, com as de Damares, terapias individuais e de grupos. No local, é pregado que homossexualidade, além de ser um pecado, é algo que deva ser “curado”, um “distúrbio” e até mesmo uma “imoralidade”, resultado da suposta ausência de um pai e da presença da mãe. Os argumentos quase sempre são bíblicos e amparados por uma apostila, como as que são utilizadas em escola.
Fórum teve acesso a trechos da apostila utilizada no tratamento. O conteúdo chama a atenção: a defesa enfática da “família” é utilizada para classificar a homossexualidade como uma “imoralidade” e uma “perversão” ao lado de práticas como o adultério ou a pedofilia – sempre com o alerta para as consequências do “pecado” que estaria se cometendo por ser LGBT.
Em outros trechos, o texto se embasa na bíblia para dar a entender que a homossexualidade pode ser “revertida” e a sexualidade “restaurada”.
Até mesmo o papel da mulher, na apostila, é reduzido ao de mera reprodutora. O texto diz que uma mulher não precisa amar um homem, mas apenas receber sua “semente”.
Confira, abaixo, alguns dos trechos da apostila.
Fonte: Revista Forum