Foi muito crime e muita zueira. Em uma Olimpíada em que a transmissão ao vivo invadiu os aplicativos de smartphones, a imprensa popular do Rio de Janeiro garantiu suas vendas se esbaldando com a mistura de esporte mundial e violência local que a cidade viveu nos últimos dias.
“Fazemos um jornalismo bem-humorado, com uma dose de acidez. Somos divertidos quando dá. A gente está sempre na corda bamba para não exagerar na brincadeira. Mas também não pode ficar careta. A regra é o bom senso. Se ofendemos alguém, pedimos desculpas, sem problemas”, sintetiza Humberto Tziolas, editor executivo do “Meia Hora”, jornal com as melhores tiradas na capa. “Maconha que vinha pra Olimpíada é apreendida, e doidos ficam sem tocha”, “Prima rouba celular de equipe do judô e dá `wazari´ em Copacabana” e “Travesti mostra habilidade no assalto com vara” foram duas delas (a última rendeu reclamação da comunidade LGBT, mas o jornal se retratou na edição seguinte).
Sobrevivendo à banda larga e aos jornais gratuitos distribuídos em estações e semáforos, “Meia Hora”, “Expresso” e “Povo” formam o trio das publicações voltados para as classes B, C e D – aqueles que, segundo pesquisas, se informam indo trabalhar pela manhã.
“Nosso público é 80% masculino, formado na época em que o jornal era mais sensacionalista. Por isso, nossa cobertura é mais policial e tem sempre fotos de mulheres em poses sensuais”, afirma Renata Onaindia, editora chefe do “Povo”. “Nosso foco não é esportivo, mas a gente dá destaque quando tem atleta assaltado ou bala perdida”, completa.
Além da criminalidade na Olimpíada, os romances entre esportistas também renderam. Todos os jornais destacaram o affair entre a saltadora Ingrid Oliveira e o canoísta Pedro Henrique Gonçalves na Vila dos Atletas. “Ouro na pegação” estampou o “Expresso”. Já o “Meia Hora” deu a manchete “Maratona de amor na Olimpíada acaba em quebra-pau”.
Por vezes classificada de “imprensa marrom”, os jornais populares têm uma história que começa na década de 1930, com o jornal “A Notícia”. Nos anos 80, surge a concorrência de “O Povo”, também com capas cheias de cadáveres. Esse tipo de publicação “espreme que sai sangue” vai aos poucos sendo substituída por um tom mais brincalhão dos títulos e sem cenas de crime.
Em 2004, surge o “Meia Hora”, jornal ligado ao mesmo grupo empresarial de “O Dia”. Dois anos depois aparece o rival “Expresso” pelas organizações Globo, o maior grupo de mídia do país.
Fonte: Uol