Para amar não há idade e nem pessoa “certa”

Para amar não há idade e nem pessoa “certa”

Foi ao ar há algumas semanas, nos primeiros capítulos da novela Babilônia, exibida pela Rede Globo, a cena do beijo entre as personagens Estela e Tereza, interpretadas, pelas atrizes Nathália Timberg e Fernanda Montenegro. A cena de um beijo entre duas senhoras provocou discussões nas redes sociais e rodas de amigos e familiares. Manifestações contrárias a essa forma de demonstração de afeto eram movidas por preconceitos que vinham carregados de ódio e nojo.

Situação como essa me sensibiliza, inquieta, mobiliza e me inspira a escrever algumas palavras, permeadas pela reconhecimento de que os afetos devem ser direcionados para aquele que se deseja e que, para amar, não há idade e nem pessoa “certa! Sim, deveríamos reconhecer o direito do outro em amar e ser feliz. Mas, nossa sociedade ainda insiste em julgar aquele que é considerado como “diferente” e que rompe com normas instituídas pela sociedade em que vivemos.

Os homossexuais estão entre essas pessoas que, corajosamente, e em parceria com grande parcela da população, vem lutando para mostrar que o direito de amar não pode ser privilégio de alguns. Apesar dos avanços e das conquistas em relação à igualdade de direitos entre casais homossexuais, ainda vivemos em uma sociedade altamente preconceituosa e que quer, a todo custo, fazer desaparecer aquele que ela julga como disforme.

Com o beijo e as trocas de carinho entre as personagens da novela não tem sido diferente. Recentemente foi publicado na imprensa que as cenas contendo gestos de carinho entre as personagens foram reduzidas. Esse tipo de situação já aconteceu em outras novelas, nas quais os autores tiveram que modificar a cena, devido ao desagrado do público. Na novela Torre de Babel, exibida em 1998, também pela Rede Globo, um incêndio no Shopping fez desaparecer da novela, a personagem Rafaela, interpretada pela atriz Cristiane Torloni, a qual vivia um par romântico com a personagem Leila, interpretada por Silvia Pfeifer. Fazer desaparecer aquilo que, para muitos, não cabe e incomoda, costuma ser mais fácil na ficção, pois na vida real dói constatarmos que homossexuais são violentados e mortos diariamente. Para desmistificar aquilo que é instituído, diferente e que nos causa estranheza, é preciso aproximar-se.

Portanto, defendo que a mídia continue a explorar as relações homossexuais, inclusive entre pessoas idosas. É preciso admitir que, se o beijo e trocas de carinho entre pessoas do mesmo sexo já costuma fazer um grande barulho, este parece ter sido acentuado quando aconteceu entre as duas personagens idosas. Parece que a sociedade vem negar, mais uma vez, que idosos são pessoas que desejam, portanto, que sentem prazer e se relacionam sexualmente. Diante de tamanho preconceito e injustiça, ainda sonho e luto por um mundo onde qualquer pessoa, em qualquer lugar, e com qualquer idade, possa expressar publicamente e livremente seus afetos.


Por: Eloisa Hilsdorf Rocha Gimenez- Psicóloga – Doutora em Educação (UNICAMP) e Coordenadora do Centro Universitário Anhanguera-Leme.

 


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