Quando o adolescente comete ato infracional dentro da trajetória escolar, qual a postura da escola? Ele acolhido bem em sala de aula ou lá contribui mais para repor ideias como ‘aluno-problema’ e sem futuro? É sobre isso que trata a dissertação defendida esta semana na Unesp Rio Claro pela Priscila Carla Cardoso, psicóloga pela Unesp Bauru.
Orientada pela Profª Débora Cristina Fonseca, a pesquisa se baseou em relatos de adolescentes vindos da Fundação CASA, em que a pesquisadora por meio de entrevistas e bibliografia de autores ligados a educação percebeu a ideia construída por esses jovens no decorrer do processo e sua relação com o que entendem por escola. A escola para eles é necessária para se ter um trabalho, e não formadora integral do ser humano. Isso ocorre, segundo Priscila, por neste ambiente escolar não encontrarem aquilo que atende as necessidades do cotidiano. Também nota-se a reposição de identidade do ‘aluno-problema’ que eles mesmos vão levando e os professores, inspetores e mais pessoas ligadas a escola fortalecem. Percebe-se que por não ser reconhecido de maneira positiva na escola, o adolescente recorre ao meio infracional para assim ter a visibilidade que deseja.
Na Fundação
Ainda na Fundação CASA , os adolescentes tornam a incorporar o discurso de culpabilização que ocorre durante toda a trajetória escolar – eu sou responsável pelo fracasso escolar. Isso limita ainda mais a capacidade de emancipação, ou seja, saída da situação, o que necessita de um horizonte maior quanto a perceber que há outros determinantes para acarretar nesse resultado.
Ainda na instituição, a visibilidade ganha no ato infracional é perdida por se tornar ‘mais um’ ali, e portanto tenta negar a identidade de infrator apreciada no começo, segundo dizeres da pesquisadora.
E a escola? Qual seu papel? Se limita a formar mão de obra eficiente? Existe o perigo de dar continuidade à reposição de identidade negativa e de acordo com a psicóloga, seguir o projeto neoliberal de sociedade.
Relação professor-aluno
A dissertação revela o professor como potencializador que permite reverter a situação. Há possibilidade de haver uma ressignificação, ou seja, aquilo que era tumulto na aula pode se transformar em brincadeira sadia quando educador e aluno cooperam neste fim.
Na Fundação Casa, os adolescentes se sentem mais acolhidos nas aulas, o que justifica pela menor quantidade de alunos e pela tentativa de readmiti-los socialmente. É preciso, segundo Priscila, interromper a reposição da identidade estigmatizada e entender a fundo o educar, aliando todos os agentes: escola, professores, casa, sociedade. E ainda, a pesquisadora inclui uma frase da autoria para afirmar como é importante: A alienação do professor transforma o aluno alienado.