As eleições parlamentares e para a Assembleia de Especialistas desta sexta-feira (26) no Irã constituirão um importante termômetro para futuras mudanças políticas e sociais na República Islâmica, imersa em um processo de degelo desde que foi alcançado o histórico acordo nuclear com potências ocidentais.
Leia a seguir as principais implicações desse pleito.
As eleições são livres?
Talvez não, mas certamente elas são competitivas. Mais de 12 mil pessoas se registraram como candidatos ao Parlamento, mas mais da metade dessas candidaturas foram desqualificadas pelo Conselho de Guardiães, entre elas as de antigos parlamentares e reformistas.
O papel desse organismo, nomeado diretamente pelo líder supremo, é o de autorizar ou vetar os candidatos eleitorais, instrumento que é usado para impedir a postulação de pessoas críticas ao regime ou que não abraçam seus princípios fundamentais.
Estão concorrendo às 290 vagas do Parlamento 6.229 candidatos, incluindo 586 mulheres –o maior número de concorrentes na história da Revolução Islâmica. Na capital, Teerã, há mais de mil candidatos competindo por apenas 30 vagas.
Moderados x Conservadores
No Irã não existe um sistema partidário no sentido ocidental. Em vez disso, há diferentes grupos que podem ser divididos em três grandes correntes ideológicas: conservadores, reformistas e linhas-duras.
Com o fim das sanções que pesavam sobre o país após o acordo nuclear e apostando na perspectiva de melhora econômica, os candidatos moderados e reformistas que apoiam o presidente moderado Hassan Rouhani, no poder desde 2013, pretendem desbancar os conservadores que dominam o Parlamento desde 2004. Conservadores e linhas-dura, por sua vez, vão tentar consolidar sua posição.
Essa circunstância terá consequências no balanço de poderes dentro da República Islâmica e permitirão a Rouhani avançar sua aproximação com o Ocidente, em seus planos de abertura econômica, e em sua promessa eleitoral de melhorar a situação das liberdades públicas, até agora em segundo plano.
A grosso modo, os conservadores se atêm aos valores da revolução e são absolutamente fiéis ao regime dos aiatolás. Os linhas-duras veem no Ocidente o inimigo imperialista e defendem uma sociedade puramente islâmica, longe de todas as influências ocidentais.
No entanto, a ala mais moderada da facção está aberta para controladas relações com o Ocidente e reformas internas limitadas.
Os reformistas, por outro lado, almejam boas relações diplomáticas e econômicas com o Ocidente. Eles também exigem mais liberdades sociais, culturais e de política interna.
Voto de confiança
Escolha do Líder Supremo
A Assembleia de Especialistas não só monitora o trabalho do líder supremo revolucionário, mas também pode, teoricamente, removê-lo do cargo em caso de doença ou desrespeito de seus deveres. Ele tem a tarefa, no caso de morte, de escolher um sucessor –de forma vitalícia. Ela é eleita a cada oito anos.
O atual líder revolucionário, aiatolá Ali Khamenei, já está com 76 anos. Além disso, persistem os rumores de um câncer avançado. Por isso é bem possível que a nova Assembleia também venha a decidir sobre a renovação do mais importante cargo da República Islâmica.
Dessa forma, a nova composição do órgão deverá mostrar tendências sobre qual será a orientação política do novo líder supremo revolucionário e, assim, também de todo o curso da República Islâmica do Irã –possivelmente para as próximas décadas.
O próximo líder pode ser, ele próprio, um dos eleitos no pleito desta sexta. Entre os moderados, a preferência recairia sobre o ex-presidente Hashemi Rafsanjani. (Com Efe e Deutsche Welle)
Fonte: Uol