Após 80 dias em greve e com os salários cortados, professores realizarão um bingo beneficente para arrecadação de fundos.
O bingo será realizado com prêmios gentilmente doados por diversos setores da sociedade, os professores convidam toda à comunidade para divulgar e participar da ação entre amigos.
Os professores também divulgaram uma carta sobre a paralisação da greve.
Carta aberta à comunidade escolar sobre a suspensão da Greve dos Professores Em assembleia, realizada no dia 12 de junho, os professores decidiram pela suspensão do movimento de greve. Ao longo de 3 meses denunciamos à sociedade a real situação da educação ofertada aos filhos dos trabalhadores nas escolas públicas estaduais. Não é segredo as precárias condições, o quadro de sucateamento, as políticas públicas ineficazes, os recursos insuficientes, etc. Frente a esta triste situação construiu-se um movimento de greve em que foram levantadas uma série de reivindicações, sendo as principais: o reajuste salarial de acordo com as diretrizes do Plano Nacional de Educação, que visa equiparar o salário dos professores às demais categorias com nível superior dentro do funcionalismo público (de aproximados R$ 12,00 pagos por aula para R$ 20,00 – 75,33% de reajuste); diminuição dos alunos por sala (não mais que 25 alunos por sala de aula); reabertura das salas de aulas e períodos fechados; garantia da regulamentação da jornada estabelecida pela lei do piso, com 1/3 das horas atividades fora de sala (horas utilizadas para correção de provas, atividades, preparação de aulas, preenchimento de diários, estudos, formação continuada dos professores, etc); contratação em condições dignas para os professores temporários (com acesso a direitos básicos como o Hospital do Servidor – IAMSP, isonomia de faltas com o professor efetivo, com o fim do chamado período de duzentena: 200 dias em que o professor deve ficar sem aula ao termino de seu contrato); fim da morosidade na publicação de aposentadorias e em processos de ascensão no pífio plano de carreira existente; fim das perseguições e humilhações nas perícias médicas; aumento do valor do vale alimentação e do vale transporte; ampliação dos recursos destinados as escolas; entre tantas outras. Essa longa pauta de reivindicações nos mostra o quanto estamos longe do padrão de qualidade que desejamos para a educação que é oferecida aos filhos e filhas dos trabalhadores e trabalhadoras pelo Estado. Acreditamos que a melhoria na qualidade da educação passa pela valorização do magistério, pela garantia de condições dignas de trabalho aos trabalhadores da educação e por uma maior destinação de recursos às escolas. Sem a devida atenção a essas necessidades o ensino oferecido e a aprendizagem dos alunos são prejudicados. Mas, infelizmente, nem todos pensam assim. As sucessivas negativas do governo em negociar com a categoria mostram o descaso com que a educação é tratada pelo poder público. Esse descaso afeta principalmente os alunos. A greve é nosso principal instrumento de luta. Não há direitos conquistados ao longo da história pelos trabalhadores que não passem pela organização coletiva. É a forma que temos de nos unir e não nos omitir frente aos ataques a nossos direitos. Por este motivo construímos a greve: porque queremos melhores condições de trabalho, só assim conseguiremos construir uma educação de qualidade para nossos alunos. Contudo, por conta das medidas repressivas e abusivas aplicadas pelo governo do Estado de São Paulo para perseguir os professores que aderiram a greve, optamos pela suspensão da greve. Das medidas, a mais nefasta foi o corte dos salários que levou famílias inteiras de professores a sofrerem com a ausência de dignidade para sobreviver (sem dinheiro para comida, se locomover, comprar remédios, leite e alimento para as crianças, se vestir, pagar aluguel, água, energia elétrica, etc). Não suspendemos a greve por que não acreditarmos nela enquanto forma de luta, ou porque não acreditamos na urgência da necessidade do atendimento de nossas pautas, mas, por sermos consequentes em relação à condição desumana à que foram submetidos os grevistas, privados de condições mínimas de sobrevivência com as perseguições por parte do estado. Sabemos que a luta pela melhoria da educação não se esgota na greve. Deve ser uma luta contínua, travada coletivamente. Os saldos da greve para esta luta são bastante positivos. Em cada cidade, com a formação dos comandos de greve foi possível tomar consciência e buscar desconstruir uma série de limitações de nossa autoorganização enquanto categoria. Foi possível sair do isolamento, recuperar uma identidade de professores críticos, combativos, conscientes e preocupados com a transformação da realidade. Praticamos formas efetivas de ruptura com uma forma de organização limitada, pouco democrática, criando espaços sólidos para potencializar uma luta compromissada com a educação e com a retomada da dignidade dos processos formativos. “Se as coisas são inatingíveis… ora não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas!” Mário Quintana.