Gritos homofóbicos contra jogadores e árbitros que estiverem em campo não serão aceitos no estádio Dr. Augusto Schmidt Filho, na cidade de Rio Claro, a 179 km de São Paulo.
Em uma publicação feita na terça-feira (7) no Facebook, o clube Rio Claro FC, que disputa a série A2 do Campeonato Paulista, divulgou uma foto do campo do time nas cores do arco-íris com os dizeres: “A comunidade LGBT é bem-vinda no estádio do Rio Claro FC!”.
O post, que faz parte de uma campanha do clube contra a homofobia, é um convite ao público LGBT e aos que se identificam com a causa a ir ao estádio nos jogos da equipe. O texto diz ainda que os gritos de “bicha” estão abolidos do estádio.
“Aqui você não vai ouvir ‘bixa’ (sic) quando o goleiro cobrar tiro de meta em tom de ‘ofensa’, aqui, somos todos iguais, todos irmãos”, diz o post. O clube explica que irá combater todo tipo de discriminação e preconceito praticado no estádio, embora não especifique como.
Com quase 3 mil curtidas e 500 compartilhamentos na rede social, a publicação bombou por um motivo claro: é preciso trazer à luz o preconceito e a violência contra homossexuais no futebol brasileiro – ainda encarados com uma espantosa naturalidade.
O ano nem bem começou e já surgiram notícias referentes à homofobia no esporte, como a declaração do presidente do Vasco, Eurico Miranda, que disse em entrevista ser contra árbitros gays no futebol.
“Eu não sou contra gay, eu só me manifestei [no passado] contra árbitro gay. Sou contra árbitro gay e isso é lá atrás. Por que eu sou contra o árbitro gay? Porque eu acho que o gay, eu não tenho nada contra o gay. Agora contra o chamado, todo mundo quer chamar de gay, mas não é gay, é a bicha, a bicha extrovertida e toda cheia de coisa (…) pode tender para o [jogador] namorado dela”, afirmou.
Em outubro do ano passado, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) chegou a multar a Confederação Brasileira de Futebol em mais de R$ 70 mil após torcedores brasileiros chamarem o goleiro da Colômbia de “bicha” durante um jogo da seleção nas eliminatórias para a Copa do Mundo em setembro de 2016.
Torcedores lutam contra a homofobia
A luta do Rio Claro contra a homofobia é iniciativa de um grupo de torcedores que administra voluntariamente as redes sociais do clube. A ideia foi levada à diretoria, que aprovou prontamente a campanha.
“Começamos a fazer brincadeiras nas redes sociais envolvendo clubes de São Paulo e ganhamos muita visibilidade. Daí pensamos em aproveitar o momento para falar também de coisa séria”, comenta o torcedor Rafael Porto em entrevista ao Catraca Livre.
Para ele, é essencial se posicionar contra a homofobia, uma das questões mais latentes do futebol. Tanto é que, além dos muitos elogios, a publicação chegou a receber comentários preconceituosos momentos depois que foi ao ar.
“Agora eu vi que 7×1 foi pouco, apaga isso, Rio Claro”, escreveu um internauta. Os posts homofóbicos foram excluídos por decisão da equipe que cuida da página.
Com a repercussão, Rafael espera transmitir a mensagem e atingir outros clubes do estado. “Nossa intenção é fazer barulho para que os clubes e os torcedores de futebol se sensibilizem, sejam acolhedores e tenham a cabeça mais aberta”, diz.
Na próxima quinta-feira (16), o Rio Claro jogará contra o Velo Clube, time fundado na mesma cidade. Será a primeira vez que o clube irá jogar em casa após o lançamento da campanha contra homofobia.
Clubes que já disseram “não” à homofobia
Em 2014, o Corinthians lançou um manifesto pedindo aos seus torcedores para abolir o grito de “bicha” durante a cobrança de tiro de meta do time adversário. O grito homofóbico tinha virado uma rotina dos torcedores em quase todas as disputas no estádio do time em Itaquera, na zona leste da capital paulista.
No manifesto, o Corinthians cita a história do clube, a fama de time do povo e relembra a luta e o “pioneirismo” pela inclusão racial e social. “Pelo fim do grito de ‘bicha’ no tiro de meta do goleiro adversário. Porque homofobia, além de ir contra o princípio de igualdade, que está no DNA corintiano, ainda pode prejudicar o Timão”, diz um trecho do texto. Leia o comunicado completo:
Outro time que tem se mobilizado pelo fim da homofobia é o Palmeiras, que no ano passado criou uma campanha on-line pedindo o fim dos gritos homofóbicos nos jogos.
O grupo M20-9 (Movimento 20 de setembro, data em que o Palestra Itália virou Palmeiras) fez um vídeo propondo que os torcedores gritem “porco” em vez de “bicha” em seu estádio, o Allianz Parque.
- Em alguns casos, a discriminação pode ser discreta e sutil, mas muitas vezes o preconceito se torna evidente com agressões verbais, físicas e morais. Qualquer que seja a forma de discriminação é importante que a vítima denuncie o ocorrido. Veja também: Saiba o que fazer em caso de homofobia
Fonte: Catraca Livre